NEWSLETTER 9 – FEVEREIRO 2024

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A EPOPEIA DA EXPEDIÇÃO AMARELA

Na Biblioteca on-line Teilhard de Chardin do nosso site, está, a partir de agora, em destaque, esta obra, da autoria de Jacques Wolgensinger, porque ela tem muito a ver com a figura de Teilhard.
Em 1931, a Citroën decide financiar uma expedição motorizada que deverá ligar Beirute a Pequim. Será chamada «Croisière Jaune» e terá por missão, não só promover as qualidades técnicas dos veículos desta grande construtora francesa de automóveis, mas também recolher o máximo possível de dados científicos. Através de filmes, fotografias e relatos publicados na imprensa, a expedição irá maravilhar diversas gerações. Teilhard de Chardin participará nesta epopeia fantástica, como cientista nas áreas da geologia e da paleontologia.

André Citroën 1878-1935

André Citroën, fundador e presidente da «Citroën» desde 1919, decide, em 1931, com o apoio dos governos francês e inglês, bem como da National Geographic Society, empreender a «Croisière Jaune», na sequência doutras duas expedições idênticas, a travessia do Saara, realizada em 1923, e outra, em 1925, consistindo na travessia da África, desde a Argélia até Madagascar, que ficou conhecida como «Croisière Noire». A Citroën tinha adoptado a tracção dianteira em certos veículos especiais, dotados de lagartas de borracha, o que lhes permitia serem o que mais tarde veio a designar-se por veículos todo-o-terreno. Estas expedições, pela sua dureza, destinavam-se a testar esses veículos com vista ao seu aperfeiçoamento técnico.

Teilhard junto duma
«autochenille»

A «Croisière Jaune» teve por objectivo a travessia da Ásia, ligando Beirute a Pequim e refazendo o percurso da «Rota da Seda». Mas não se limitava a abrir este trajecto de mais de 13.000km à circulação automóvel; movia André Citroën também a intenção de contribuir para o desenvolvimento nos campos da técnica, da cultura e da ciência. Assim se explica que, para esta expedição, tivessem sido convidadas personalidades de diversas áreas do saber e das artes, desde logo o Pe. Teilhard de Chardin, na qualidade de geólogo e paleontólogo, e ainda dois arqueólogos, um naturalista, dois escritores, um pintor, um fotógrafo, além de elementos mais especificamente ligados a funções técnicas da missão, como engenheiros, um operador de rádio e um médico.

Foi intenção dos organizadores que um filme documentário da expedição fosse realizado, com vista à divulgação posterior deste feito. Assim, fez parte dela também uma equipa de cinema integrando diversos cineastas, entre eles André Sauvage, que conduziu o trabalho de recolha de imagens e a quem se ficou a dever a realização do filme que teria o nome da expedição e em que o padre Teilhard de Chardin é fugazmente visível (ver aqui 17 minutos desse filme)

Esta grande expedição começa no dia 4 de abril de 1931, data que não foi escolhida ao acaso: seis semanas depois ocorreria a abertura oficial da Exposição Colonial de Paris, o que reforçaria a atracção e o fascínio do público por esta longa viagem cobrindo a Rota da Seda, nos passos de Alexandre, o Grande, e Marco Polo. Sob o comando dum colaborador próximo de André Citroën, o engenheiro Georges-Marie Haardt (que, desafortunadamente, viria a morrer de exaustão no final desta aventura), a expedição, envolvendo 43 homens e 14 «autochenilles», compreendia duas equipes, uma partindo de Beirute e a outra de Pequim, que viram a encontrar-se no dia 8 de outubro em Aksou, nos Himalaias. Os dois grupos regressam, depois, juntos a Pequim, onde entram a 12 de fevereiro de 1932, finalizando-se assim a expedição da «Croisière Jaune».

Mas, no primeiro dia desse ano de 1932, o Padre Teilhard de Chardin tinha celebrado a Missa de Ano Novo na Missão de Lian Tcheou, nas faldas dos Himalaias. Numa carta à sua mulher, Georges-Marie Haardt dá, desse momento, um testemunho comovente: «Foi um espectáculo emocionante ver reunidos, naquela capelinha perdida no coração da China, todos aqueles homens, nos seus trajes de campanha, recolhidos diante de Deus, antes de enfrentarem de novo o imprevisível que os separava ainda dos seus objectivos, na aurora daquele novo ano. O Padre Teilhard de Chardin é um Príncipe da Igreja, mas ele possui, tanto quanto é possível, o espírito da expedição.»
Perante todos os participantes que, na sua totalidade, eram ou ateus ou agnósticos, Teilhard fez uma homilia cujo texto um dos participantes, Audouin-Dubreuil, conservou e que é citada como uma das suas mais belas orações:
«Meus caros amigos, encontramo-nos reunidos esta manhã – nesta pequena igreja – no coração da China –, para começar, em face de Deus, o ano novo. Deus não tem, para cada um de nós aqui, o mesmo contorno nem a mesma figura. Mas, porque todos somos homens, não podemos escapar, nenhum dentre nós, ao sentimento e à ideia reflectida de que, acima e em frente de nós, uma energia superior existe, na qual temos de reconhecer – visto que ela nos é superior – o equivalente dilatado da nossa inteligência e da nossa vontade. É nesta poderosa Presença que nos devemos recolher um instante, no começo deste ano. A essa universal Presença, que a todos nos envolve, pediremos, primeiramente, que nos reúna, como num centro comum e vivo, àqueles que amamos e que começam, bem longe de nós, também um novo ano. Então, lembrando-nos da Sua omnipotência, nós pedir-lhe-emos que anime favoravelmente, a nós, aos nossos amigos e às nossas famílias, rede complicada e, em aparência, tão incontrolável, dos acontecimentos que nos esperam no decurso dos meses que vêm: que o sucesso coroe os nossos empreendimentos, que a verdadeira alegria habite os nossos corações e à nossa volta e que, na medida em que a dor não nos possa ser poupada, essa dor se transfigure na alegria superior de mantermos o nosso modesto lugar no universo e de haver feito o que devíamos! Eis o que Deus pode realizar à nossa volta e em nós pela sua acção profunda. – É para que isto aconteça, que eu lhe vou oferecer, por vós, esta missa – a forma mais elevada da prece cristã.»

Miniatura duma «autochenille», apresentada na exposição de 2005 em Clermont-Ferrand, comemorativa do cinquentenário da morte de
Teilhard de Chardin

O livro que aqui apresentamos, intitulado A Epopeia da Expedição Amarela, é da autoria de Jacques Wolgensinger (edição portuguesa da Europa-América, 1972), e é baseado na crónica da expedição que o escritor e historiador Georges Le Fèvre redigiu enquanto acompanhava pessoalmente esta extraordinária aventura. O romance, cuja tradução para português é da autoria de Amarina Alberty, é um relato extremamente realista e colorido, não só de todo o espírito empreendedor e aventureiro que inspirou os organizadores e os participantes da expedição, mas, sobretudo, das peripécias de toda a ordem, desaires, desgraças, perseguições que suportaram com enorme estoicismo e coesão do grupo, e, ao mesmo tempo, dos sucessos e da ultrapassagem das dificuldades que garantiram até ao final a manutenção de um espírito de vitória. Teilhard de Chardin que, como vimos, foi um dos cientistas participantes na expedição, teve nela uma intervenção muito activa, como vem relatado em diversas passagens deste livro (assinaladas nas pág. 61, 65, 67, 69, 91, 93, 97, 156, 188, 195, 213).
Para além do interesse documental da obra no tocante à «Expedição Amarela», esta obra fornece-nos uma série de referências que enquadram o relato. Uma das mais interessantes vem logo no prefácio e consiste num elenco impressionante dos acontecimentos e facetas que marcaram profundamente aquelas primeiras décadas do século XX, incluindo os chamados années folles, que deram uma reviravolta total aos usos e costumes no pós-guerra 14-18. A começar por este tremendo conflito mundial, segue-se a revolução russa (1917), a crise na Alemanha vencida até à ascensão de Hitler em 1934, precedida da ascensão de Mussolini em 1922, a guerra civil de Espanha (1936-1939), uma série de convulsões político-económicas na Europa e no Médio-Oriente, a guerra russo-japonesa (1910) seguida da anexação da Coreia pelos japoneses, que, em 1931, invadem também a China, o fim do império chinês e a proclamação da república (1911), todas as convulsões políticas na China que culminarão no fenómeno Mao-tsé-tung, o combate não-violento de Gandhi pela independência da Índia (1930-1948), a Grande Depressão de 1929, nascida nos EUA. A par destes acontecimentos de carácter político, o prefácio do livro assinala igualmente as notas mais marcantes da evolução cultural da Europa, citando as suas principais manifestações: descobre-se o jazz com The Jazz Singer (1927), , a art déco na década de 20, seguida da loucura pela arte negra (1925) e sua maior representante musical, Josefine Baker, dá-se as primeiras gravações das canções de Maurice Chevalier na His Master’s Voice, a celebração duma série de figuras do music-hall parisiense, onde pontificam as bailarinas Mistinguett e Lisa Ducan, que dança descalça no Teatro dos Campos Elísios, as actuações célebres do palhaço Grock; os filmes de Charlot convertem-no em ídolo mundial e surge o primeiro filme sonoro (1930) com o boom do cinema através de estúdios irrompendo por todo o mundo; ouve-se o bolero de Ravel e assiste-se à ópera de Berthold Brecht «Os quatro vinténs; as garçonnes fumam Égyptiennes com ponta de cortiça e bebem cocktails nas esplanadas, os homens deixam de usar chapéu e colam os cabelos com fixador, a moda revoluciona-se com Coco Chanel e Jeanne Blanchot, usa-se creme Tokalon; lê-se, entre muitos outros, André Gide, Maurras, Cocteau, Malraux, Colette, Valéry, Kipling, Somerset Maugham, Thomas Mann (A Montanha Mágica), Rilke, Pirandello, Unamuno, Ortega y Gasset; surge o segundo manifesto surrealista (1929), Fujita pinta gatos, Van Dongen, mulheres, Chagall, cabras ao luar, Rouault, Cristos, Léger, máquinas, Matisse recebe, em 1927, o Prémio Carnegie, e Picasso, em 1930; Fleming descobre a penicilina, Lemaître, pai da teoria do big-bang, coloca a hipótese do universo em expansão, Einstein define a teoria da relatividade, Heisenberg, o princípio da indeterminação, que conduzirá à descoberta da física quântica, Freud funda a psicanálise. Os meios de comunicação conhecem um desenvolvimento exponencial: surgem os pneus Michelin, Malcolm Campbell bate o record de velocidade automóvel, em 1927, atingindo com o seu bólide os 396 km/hora e, no mesmo ano, Lindbergh atravessa o Atlântico em avião, voando sem escala de Nova Iorque para Paris e é ali recebido, entre outros, por André Citroën.

«Autochenille» do comandante Georges-Marie Haardt, baptizada «Escaravelho de ouro»

 

SUMÁRIO

 

| EFEMÉRIDE

Março de 1924
«O meu universo»
Em março de 1924, Teilhard encontra-se em Tientsin, na China. No dia 25 de março, termina o seu ensaio «O meu universo», em que expõe a sua maneira pessoal de compreender o Mundo, à qual foi, progressivamente, conduzido pelo inevitável desenvolvimento da sua condição humana e cristã. É, talvez, o primeiro grande documento de síntese de todo o seu pensamento cristológico e da sua sensibilidade mística e profética. É um texto fundamental para compreender o alcance das suas grandiosas intuições, de que, posteriormente, ele nos vai dando conta numa inúmera sequência de escritos que, no seu conjunto, só viriam a ser conhecidos do grande público após a sua morte em 1955. (Ler aqui «O meu universo» e respectivas «Notas de introdução à leitura»)

| AGENDA

3º ENCONTRO NACIONAL DOS AMIGOS DE TEILHARD DE CHARDIN – ABRIL 2024

Ver aqui o programa do 3º Encontro Nacional, que se realizará nos dias 5 e 6 de abril, novamente na Casa Velha, Ourém. Embora os participantes inscritos possam optar por passar todo o fim de semana nas instalações da Casa Velha, o programa centrar-se-á inteiramente no sábado, 6 de abril. O Encontro tem como tema A MISSA SOBRE O MUNDO, criada por Teilhard de Chardin há um século, no deserto de Ordos, China, que será objecto duma conferência-debate. A Eucaristia vespertina, comemorativa das datas de nascimento e morte de Teilhard (1 de maio e 10 de abril) com que se encerra o Encontro.

17º RETIRO ANUAL TEILHARD DE CHARDIN

Desde janeiro de 2024, que estão abertas as inscrições para o nosso 17º Retiro anual que, como habitualmente, se realizará na Casa de Exercícios de Santo Inácio (Rodízio, Praia Grande, Colares), no fim de semana de 24-26 de maio. Será, como de costume, orientado pelo Pe. Vasco Pinto de Magalhães sj. O tema escolhido para este Retiro é «Da morte à Vida».

CURSO ABERTO TEILHARD DE CHARDIN

O Curso Aberto Teilhard de Chardin, está na sua recta final. Prosseguimos as aulas quinzenais, por zoom, dando cumprimento ao plano estabelecido. Este segundo e último módulo do curso prolonga-se até junho de 2024. A obra que serve de base ao nosso Curso, é Teilhard de Chardin revisitado – um cristianismo renascido para o 3º milénio, da autoria do Prof. Gérard Donnadieu. As gravações de todas as sessões podem ser visionadas AQUI

| VIDA DA ASSOCIAÇÃO

CONFERÊNCIA DE LUÍS SEBASTIÃO NA BROTÉRIA

No passado dia 7 de novembro de 2023, realizou-se, na Brotéria, a conferência do Professor Luís Sebastião, da Universidade de Évora, que tratou o tema «Esperança, confiança e visão: porque a Educação precisa de Teilhard de Chardin». Tivemos a presença dum grupo de 25 pessoas, tendo sido, no final, estabelecido um diálogo muito vivo e esclarecedor com o orador.

BIBLIOTECA TEILHARD ON-LINE

No separador do nosso site Ler Teilhard – Ler aqui (português) – Livros, encontra-se um conjunto de obras, de e sobre Teilhard, que podem ser ali lidas na íntegra. Ao darmos seguimento a esta iniciativa, estamos certos de proporcionar aos cibernautas que nos visitam um valioso serviço e de enriquecer, assim, ainda mais os nossos conteúdos. Para facilitar o acesso a este acervo, logo na primeira página do site estamos a colocar as capas e os títulos à medida que o vamos alargando com novas de obras, bastando um clique sobre cada uma delas para a abrir de imediato e, assim, permitir directamente a sua leitura.

ASSEMBLEIA GERAL

No próximo dia 15 de março, realiza-se (por zoom), às 18:30h a Assembleia-geral ordinária da nossa Associação para aprovação do relatório e das contas de 2023 e plano e orçamento para 2024. Os dados de acesso a este zoom serão oportunamente divulgados.

| A VIDA DE TEILHARD DE CHARDIN, EM BD

Pierre Teilhard de Chardin, Padre jesuíta, homem de ciência e filósofo, nasce no castelo da família, em Sarcenat, Clermont-Ferrand (Auvergne, França) a 1 de maio de1881 e morre em Nova Iorque, no dia 10 de abril de 1955. Adaptada da brochura «Pierre Teilhard de Chardin» [Croyants de Tous Pays, Éditions Fleurus, UNIVERSMEDIA, Paris, para FONDATION TEILHARD DE CHARDIN], oferecemos-vos (sobretudo a pensar nos mais novos), uma sugestiva biografia de Teilhard de Chardin, apresentada em BD, de que iremos inserindo sucessivamente as diversas pranchas. Acrescentamos hoje a 7ª prancha.
Eis aqui todas SETE as pranchas já publicadas. 

PRANCHA 7

| PUBLICAÇÕES

O nome do Padre Teilhard de Chardin é cada vez mais conhecido. Mas o conteúdo do seu percurso e das suas descobertas permanece ainda muitas vezes um tesouro escondido. Contudo, o pensamento e a espiritualidade do Padre Teilhard, em concordância com as mutações dos tempos modernos, poderia esclarecer muitos dos nossos contemporâneos nas suas interrogações sobre o Homem e a sua relação com a ciência e a fé. Este livrinho apresenta-se como uma primeira iniciação à reflexão e às convicções do sábio jesuíta que foi o Padre Teilhard de Chardin.
O autor é o Pe. André Picard, padre diocesano de Bayeux et Lisieux. [Ed. Saint-Léger, França, 2013]
Considerando esta obra, editada em França em 2013, um excelente meio de fazer uma introdução ao pensamento de Teilhard de Chardin, decidimos realizar a sua tradução e passar a transcrever, neste espaço, sucessivamente os seus diversos capítulos e partes. Assim, apresentamos AQUI a Introdução e o Prefácio da autoria do nosso já conhecido Gérard Donnadieu. Nas próximas newsletter’s iremos publicando a tradução dos diversos capítulos do livro.

| PENSAMENTO DE TEILHARD

“A época das nações acabou. Do que precisamos agora, se não quisermos perecer, é de abandonar os nossos velhos preconceitos e CONSTRUIR A TERRA

Leiam-nos e procurem
FAZER DOS VOSSOS AMIGOS, AMIGOS DE TEILHARD DE CHARDIN 
(VER AQUI

 

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